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sábado, 18 de agosto de 2007

A Boa Sorte é o vento que leva ao céu a pipa pintada da cor dos meus sonhos...

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Estrelas...

São os Anjos piscando prá nós, beibe.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Agradeça, peça,viva...

Toda Gratidão à Buda, Jesus, Deus, Krishna, Brahma (não a Cerveja, pelo menos não agora), Mohamed, Cernunos, Zeus, Mãe-Natureza, Universo, Cosmos, e a Tudo aquilo que não importando o Nome é Bom e tende ao Bem, para quem eu pedi uma Flor para cuidar, e antes mesmo de eu pedir fez ela cruzar meu caminho, muitas águas se passaram, moveram meu moinho. Até que enxergei. Eu fui a Ela e Ela veio a Mim.
E hoje posso cativar minha Flor, e viver o Pequeno Príncipe que existe em mim.


Agradeça, peça,viva, sempre.
"As pessoas só vêem aquilo que estão preparadas para ver." Ralph Waldo Emerson

Quando percebo que sou pequeno,
quando vejo que minha unhas roídas, minha fala engraçada,
minha dor nas costas, minha ansiedade, lamúrias, medos, são tão pequenos.
Eu me sinto um Playmobil e me sinto tão bem, por não ter de entender tudo,
por não ter a Resposta para A Vida, O Universo e Tudo mais.
Existe alguém (algo) cuidando das coisas, quando tudo parece estar perdido
e seguindo por caminhos tortuosos. Novos horizontes se abrem, um olhar brilhante bem na sua frente, um Bom Dia dito por um estranho, o Sol batendo forte e a Natureza seguindo seu curso.

Acredite, é preciso deixar o orgulho de lado, agradecer pelas coisas boas que passaram, pelas ótimas de hoje, e pelas maravilhosas de amanhã. Prepare-se para coisas boas e então veja.

domingo, 13 de maio de 2007

Palavras

Palavras são bonitas,
Flor, Chuva, Sorriso,
Palhaço, Fogo, Praia,
Beijos, Gatos (cachorros também),
Sol, Rua, Neném.

Palavras podem mudar o Mundo,
(ou pelo menos o meu e o seu mundo)
- Eu te amo!
- Sou feliz porque sou...
- No meu governo...
São bonitas. Quando são mais do que letras, fonemas agrupados,
(isso são só riscos, murmúrios)
Sem sentimento, qualquer palavra é vazia, é nada.

Eu adoro palavras, palavrinhas, palavrões.
Então, meu livro preferido poderia ser um dicionário daqueles enormes,
Mas não. Meu livro preferido,
É um que pode ser visto, acariciado, cheirado, comido, bebido,
Posso senti-lo sussurrando em meu ouvido,
Quando estou acordado, quando estou dormindo.
Meu livro preferido é a Vida. E adoro ler para os outros...



sexta-feira, 23 de março de 2007

Ele é feliz, com o pé doído, corpo moído, muito sorriso e um bilhete pro céu.
Ele é feliz, com pouco pensar, muito sonhar, vive mas com os dois,
hoje ele se mexe, sem bem saber como.
Só não seria feliz, com o pé doído, corpo moído, e o "peito abrido"
se seu espírito não cantasse, se sua alma não falasse, mas hoje tudo acontece
O Pierrot se desfalece de tanto rir.
"- O maior mistério é não haver mistério algum"- sussuraram.
Rodin perdeu tempo em esculpir O Pensador, porque mesmo lindo, continua ali quieto enquanto o mundo rodando e a Vida tão depressa, não espera ninguém sentar, pensar, chorar e esquecer.
Se é para a Vida me bater que seja de alegria, e se hoje o peito bate é de uma felicidade louca que me espanca.
Diga: - Eu sou o(a) dono(a) de minha história.
E escreva algo que eu possa ler, que Deus possa ler e nós diremos Amém.

terça-feira, 6 de março de 2007

tão perto

...deitado tão próximo, tão perto do coração selvagem, entre suas batidas, sua respiração e o cheiro de grama. Um coração que para mim é feito selva.
Tendo Selene e o Sol para me guiar eu me jogo , com a coragem e poesia de um Homem-menino, para descobri-la por dentro e por fora, por dentro e além, porque sei que a luz dos olhos é porque ela tem diamantes por dentro...

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

1984

º"Aquele que se deixa prender por uma Alegria / Rasga as asas da vida; / Aquele que beija a Alegria enquanto ela voa / Vive no amanhecer da Eternidade."

Nascido sob Gêmeos, não é estranho, e sim belo, o Bem e o Mal morarem dentro de mim. Os dois de mãos dadas, dançando ao som de estrelas cadentes.Cadentes? não nem sempre, elas sobem, giram e não vão há lugar nenhum.

Eu irei? Porque vi Ele e Mefistófeles jogando xadrez, e eu era o peão preto e o branco também, e eles brincam comigo, riem de mim. E eu deles.

Então entre a cidade e as serras eu vou indo, em companhia da pequena criança, do gato preto de Poe, das flores de Baudelaire, até a tabacaria, onde sento escrevo poesias regadas a tinta e sangue, a café e planos, como uma salada feita com trevos de oito folhas, e sei que todo o Universo se esconde em meu sorriso com covinhas, feito o de Amélie.

Pegue o último portal, sim de repente é a porta errada, ou não.O bardo inglês disse, nós somos feitos do tecido que são feito os sonhos...acredite.
Un jour de pluie

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Ao Exílio

Levantando antes do Sol, olhando minha cara toda amassada de quem aparentemente apenas piscou essa noite.
Saio correndo de casa, contando moedas para ir sacolejando dentro do ônibus, espera aí moedas? Sim, moedas. Poucas, e únicas. As únicas coisas que carrego que os homens costumam dar valor, mas por baixo dessa coisa chamada corpo, carrego em mim todos os sonhos do mundo, sonhos de criança, de mulher, de velho e de homem.
E por mais que isto me traga indecisão às vezes, isso é o que alimenta minha calma, minha fala mansa, e é o alicerce desse sorriso bobo que carrego estampado faça chuva ou faça sol, de olhos abertos ou fechados. Até o dia em que o barqueiro vier, e quando vier, por favor, pegue duas moedas em meu bolso, feche meus olhos e as coloque sobre eles, assim chegarei sorrindo ao Exílio. E escreverei para sempre...

Feira

Ninguém viu
A poesia que existe nas frutas risonhas expostas nas barracas caindo aos pedaços,
no grito monótono do vendedor de peixes,
no suor de trabalho dos homens que carregam caixotes,
nas crianças pedintes que esquecem de pedir e saem brincando entre pernas e carrinhos,
nos orientais que vendem pastéis enquanto gritam com seus funcionários,
e no meio da feira eu estou só, ninguém me vê da forma que eu enxergo os outros
e isso me entristece,
Como eu queria que sentissem como eu sinto, mas existe o livre-arbítrio.
Então só posso desejar boa sorte...

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Descobrimento

Ele nunca pensou que estudaria a geografia do corpo dela tão de perto. Então como um menino curioso (que ele é) quis correr para todo lado, era a alegria da chegada, da surpresa dela ali em seus braços.
Como um explorador, foi descobrindo ela, e a cada passo, a cada toque foi-se maravilhando mais e mais, e de tão próximo, tão perdido, foi confundindo seu corpo com o dela.
O toque das duas peles, dos lábios, dos corpos era como se dois universos se chocassem. Dois mundos, duas vidas se encontrando, se distanciando, numa dança mágica que confundia os sentidos, fazendo esquecer o que era tempo, o que era espaço, quem era ele, quem era ela.

Rindo, ele pergunta:

- De que lado fica o Céu, onde a Lua brilha e os anjos dizem amém?
- E a Terra onde o Verde mora?
- E essa Brisa suave que acaricia nossos corpos inflamados pelo desejo?

Ele não quer respostas. Só tem um pedido:
- Encosta teu corpo no meu. Vem sonhar e brincar comigo, brincar mais uma vez de sermos um só...

sábado, 13 de janeiro de 2007

Febo

E eu já tive medo. Tive medo de olhar, de sentir, cantar, falar, amar...
Acho que já tive tantos medos. Um para cada dia da minha vida.
Sim, já confundi meus medos com segurança (porque eles me serviram de paredes), eles me protegeram do frio, da dor, mas da Vida também. Porque não via como tudo é maior, como é, e não é, e de repente sim e não, e não e sim.
De como as folhas caem, e tornam a nascer, e as flores se vão e vêm, de como sou maior que meus tropeços na calçada, meus problemas do dia-a-dia, e de minha timidez.
Mas tudo fica bem, assim é a natureza, assim é minha teimosia. E sei pode parecer careta, mas não, eu me toquei, não existem finais felizes, e sim histórias felizes, e como a História é escrita por aqueles que estão vivos, eu tenho o poder de fazê-la uma história feliz, e sei que todos nós podemos.

"O medo tremendo de viver, apesar de todo, vale mais que a recusa de viver".

Ma petite ______

Eu acordei. E mesmo com as pálpebras pesadas, escolhi olhar. Porque a Vida é bela, se seus olhos estão dispostos a se deixar surpreender.
E levantei, no espelho um rosto inchado, aquela não era eu, só um reflexo, só uma imagem, mas disso o Mundo está cheio, e nem sempre é verdade, nem sempre.
Meu corpo pequeno mas uma vez tinha de se jogar nesse mundo cruel, de homens cruéis, mas eu me jogo em cima deles, me jogo. Mas por que?
Mas no meio de corpos estranhos, sorrisos de plástico, e mentiras que eu mesmo crio, eu procuro aquela coisa, coisa que vai me preencher e me fazer maior. E a encontrei...

domingo, 7 de janeiro de 2007

F

"A Felicidade para mim sempre foi como um jogo de quebra-cabeças, com muitas, muitas peças. E quanto mais eu montava, mais feliz ficava. Mas por mais que eu tentasse, sempre, sempre me faltam peças. Então a Tristeza vêm e desmancha tudo.
Daí fico parada por um tempo, me perguntando se vale mesmo a pena tentar. Inspiro bem fundo, de um jeito que enche todo meu peito, e a inspiração vêm de novo, e eu recomeço. E uma chama arde em todo meu corpo, tanto que chego a ter medo de queimar as peças quando as tenho na mão. E pouco a pouco, vou encontrando e encaixando-as, e sorrisos e sonhos eu vou tendo.
E sei que vou conseguir, basta eu sempre tentar, um dia a Felicidade ficará completa."

sábado, 6 de janeiro de 2007

À minha mãe, do seu filho astronauta

Quando eu era pequeno, fiz um desenho corri para mostrar e disse:
- Mãeeeeee! Olha só quero ser um astronauta quando crescer
Minha mãe riu, e me achou um menino prodígio

Quando adolescente, vivendo um pouco rebelde
escolhi estudar Química, prestei prova, passei e disse:
- Tá aqui, passei e serei um técnico.

Na puberdade, escolhi estudar Economia,
quantificar, comparar dados, queimando meu raciocínio critíco
Eu disse: - Mãe! serei um economista, assim como grandes homens foram.

Em minha vida adulta, escolhi estudar Farmácia, poder ajudar os outros,
lidar com vidas, disse: - Mãe! Vou ganhar bem, ser respeitado por minha profissão.

Bem a verdade é que de tudo que escolhi estudar, só terminei o curso de Química.
Claro eu poderia me achar um fracassado, joão-ninguém, avoado, zé-mané,
arregão e outros 157 adjetivos levianos e doloridos.

Mas é que antes de mais nada, escolhi ser feliz independente de rótulos,
denominacões e títulos, e nessa Vida ainda, porque não sei se terei mais uma.

Não disse nada a minha mãe, mas ela entendeu tudo, ela me sorri e vejo em seus olhos:

- Você sempre será meu menino-prodígio!

Isso me emociona, e sei que mãe é isso.

Deixo ela ver em meus olhos minha felicidade simples e digo bem baixinho:

- Te amo sempre,
quando você está comigo,
quando você não está
quando quero te ver e quando não quero,
porque você me trouxe para cá,
para que eu viva,
sinta coisas que você não pode sentir,
que faça coisas que você nunca pôde fazer,
e para que eu escreva estas coisas que qualquer um pode ler,
mas só você e eu pode entender...

Crenças

Olhe...bem de perto.
Escute...com atenção.
Toque...com carinho.
Fale...a Verdade.
Ame...com todo o coração, mas sem apego.

Dance,
sorria,
durma como criança.

Ame de verdade, pessoas, coisas, lugares, momentos,
pelo tempo que for, que seja infinito e único enquanto for.

Viva hoje como no seu primeiro passo, suspiro,
riso, beijo, choro, prazer. E voe sempre!

A verdade

Xi
A verdade...
A verdade tem dessas coisas de não seguir em linha reta,
ela brinca comigo,
ela brinca contigo,
brinca com todos nós.

E quando é que vamos saber, falar,
e escutar toda A Verdade?

Eu não quero contar tudo,
eu não quero escutar tudo,
Saber de tudo é perder a Graça.

um beija-flor,beija e voa sem saber,
Qual é a verdade dele?
A verdade da flor, apenas.

Escrever toda verdade,
é deixar o papel em branco
e dar um sorriso
Porque a verdade não dá para ser vista.

Ela é pequena demais,
Ela é grande demais,
Não cabe em mim,
Não cabe em você,
Por isso eu a perco,
Por isso eu a procuro.

Mas eu sei que
A verdade tem dessas coisas de não aparecer inteira,
se ela aparecer por inteiro
Eu fecho meus olhos e vou dormir,
porque desse jeito eu não brinco.

Nascimento

Quando ele boceja, eu abro os olhos
enquanto ele sonha, a menina dança,
a menina vibra, a menina canta,
a menina escreve, escreve, escreve

e a menina tem um nome Sophia...

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Um convite, um poço, um nome...

Entre choros, risos, cascas de frutas, garrafas vazias,
roupas no chão,
rabiscos, sussurros, crenças,
pés na grama,
medos, piadas, cabeçadas, sonhos, feridas, band-aids,
mãos abertas,
crianças, cachorros, gritos, rotinas, sinais, encruzilhadas.

Vejo o Coelho Branco correndo, atrasado!?

Vou, sim vou atrás dele. Foge comigo?

O poço nos espera...

"Queria poder te chamar pelo nome, (e esse não poder me deixa péssimo), mas te chamo apenas de :

- Meiguice!!!"

terça-feira, 26 de dezembro de 2006

Las cucarachas

Enquanto estou a pensar,
nas coisas de uma vida de homem,
Dívidas, penitências, medos e desejos,
vejo duas baratas à baratear,
( andar sem caminho, sem se preocupar)

(Inveja!!!)
Por não poder seguir assim,
tão leve.

(Inveja!!!)
Nós,
sempre vivendo para coisas, para outros,
sempre com uma falta de ar.

As baratas dançam e cantam " I will survive"
sim, elas sempre vivem e viverão,
por viverem com tão pouco

Ser humano é difícil,
Vida de Homem sai caro,
Vida de barata, é barata mesmo.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

Ene-a-o-til



- Não. Não dá mais – ele disse.

Então o seu mundo caiu, as estrelas se apagaram e a chuva pareceu mais forte. Não houve dialogo, tudo o que ela tinha a dizer, ficou preso em sua garganta, um coração na boca.
Ele se foi. Ela saiu caminhando para casa, com um passo lento e doído.

- Talvez fosse melhor ficar parada na rua e um carro vir e acabar com tudo - pensou ela.

Tudo bem, bem que ela tentou, imóvel, a dois passos do meio-fio esperando o choque, viu o ônibus se aproximando, não se mexeu, cada vez mais perto, mas ele parou, abriu as portas, sorte ou azar ela havia parado, uns 10 metros à frente de uma parada de ônibus.

- Aff, nem isso eu consigo - pensou ela.

O jeito então foi continuar seu caminho. Não, não, não, a palavra ainda ecoava em seu ouvido. Com sua imaginação do mundo de Bob, ela poderia imaginar um milhão de possíveis motivos, mas porque fazer isto? Nada adiantaria.
Mas sem precisar mandar sua cabeça começou a relembrar alguns dos nãos que ela já havia tomado na vida.

- Mãe compra sorvete?
- Não.
- Pai me compra uma Barbie?
- Não.
- Professora será que posso entregar depois?
- Não.
- Posso dormir fora hoje?
- Não.

Uma vida feita de nãos. Mas pensando melhor, ela pôde perceber que os nãos haviam colocado limites a seus desejos e caprichos, era uma tesoura a de quando em quando cortar a ponta de suas asas, não foi tão ruim assim, não foi mesmo, só de imaginar de quantas desventuras ela já deveria ter escapado por ouvir um não, e alias isso nunca havia a privado de sonhar e realizar alguns de seus sonhos.
Se tivesse esse poder, esse poder de dizer não, teria tomado melhores atitudes, e evitado várias gafes e armadilhas.

- Filha come essa sopa de brócolis.
- Coloca esse vestido cor de rosa para ir a festa.
- Ah querida. Você sabe que eu te amo, não sabe?

Não, não, não, mil vezes não. A chuva continuava caindo, seus passos mais leves, ela ia agora de cabeça erguida, disposta a ouvir mais um não, e melhor, disposta a dizer quantos não ela tiver vontade de dizer.
E quando chegou em casa, suspirou, guardou seu coração no bolso, e se surpreendeu ao olhar no espelho. Cabelo, rosto todo molhado, de chuva e lágrimas, mas um sorriso largo de dar orgulho.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Fazendo as pazes


Com um jeito tímido, sem saber com que cara, foi entrando na igreja.

- Há quanto tempo...- pensou ele quando cruzou pela porta.

Na correria diária, ir a igreja parecia algo supérfluo, às vezes sem sentido, mas agora era diferente. Era segunda-feira, havia poucas pessoas na igreja, todas perto do altar, rezavam juntas, de longe ele observava sem vontade de se aproximar. Ele queria mesmo era falar com o padre, pedir um conselho, talvez se confessar.

Mas com vergonha procurou um banco afastado do altar e se sentou, não era muito confortável mas servia. Com a cabeça baixa, entre as mãos ele ficou, tinha tantos problemas para pensar, sua cabeça pesava.

Na verdade não problemas, mas dívidas. Dívida com sua mãe, com sua avó, irmão, e com as pessoas que sabia que amava e nunca havia demonstrado tal sentimento. Dívidas de amor, as piores.

Poderia ficar ali por horas, mas não, a Vida não deixa ninguém se esconder por muito tempo.

- Garoto, o que você tem?- perguntou um senhor.

Careca brilhante, um pouco de cabelo grisalho, segurava uma boina na mão, aparentava ter uns 60 anos de idade, falava de forma suave, trazia confiança.

- Problemas, problemas...

- Ah, que ótimo. Adoro problemas.

- Ah, tá sei! Isso quando não são seus.

- Que isso, gosto deles mesmo, principalmente quando são meus.

- Não entendo. Como pode alguém gostar de ter problemas?

- Simples. Sem problemas, eu me sinto velho. Sinto que a morte pode estar chegando logo ali, porque possuir problemas me faz me sentir vivo, como um garoto.

- Hum...

- Problemas de amor?

- Sim, sim.

- Hum, esses não podem esperar. Eu perdi muitos amores,perdi minha esposa, meus pais, meus filhos, amei demais, mas sinto que não foi o bastante. Nunca é o bastante.

- Que pena. Mas não sei o que, nem como fazer.

- Vá, se abra, deixe que o amor fale por você. Todos sabemos amar, nossa cabeça é que às vezes atrapalha, o tempo de amar é sempre o Agora...


Tum... Tum... Tum... e mais seis badaladas, eram nove horas.

Levantou a cabeça, assustado, havia dormido. Uma dor no pescoço por causa do mau jeito, se espreguiçou, se sentiu confuso.
A igreja agora estava tão silenciosa, havia apenas duas mulheres ajoelhadas, apoiadas no encosto do banco mais próximo do altar.
Onde estaria aquele senhor? Havia mesmo recebido conselhos dele? Ou foi apenas um sonho? Não soube responder.
Mas dentro dele agora havia uma força tão grande, esqueceu de suas vergonhas, medos, já sabia o que fazer. Era tempo de amar.

E foi-se. Sem rezar, sem se confessar, sem dizer amém, havia feito as pazes com Deus.

Alice através do espelho



Alice olha no espelho, batom, lápis, delineador, perfume, um risinho, está pronta. Mais uma vez vai se jogar na noite, novos rostos, novos lábios, tentando encontrar em outros o que não encontra naquela que vê no espelho. Ela, a mais popular, a mais cheia de amigos, a mais desejada por homens e mulheres.
Na procura de mais uma baladinha, tentando achar um pouco de felicidade no fundo de um copo, ela só consegue ver a vida um pouco mais distorcida do que realmente é.

- Quem é que vai dormir com ela essa noite?

O nome ela ainda não sabe.

- Quem vai ligar para ela no dia seguinte? Para quem ela vai chorar suas dores?

Para isso não há resposta.

É existe um preço a pagar, por se ter uma vida mais efervescente do que sal de frutas Eno.
Procura as chaves, fecha a porta, então corredor.
– Ei. Segura o elevador aí.
Então rua, noite, porta de barzinho, falação, azaração, pegação.

Só mais uma noite, que talvez a faça pensar porque estando com todos, ela ainda se sente tão sozinha, é fácil achar alguém para preencher seu corpo, mas seu coração é uma cidade fantasma.

Volta para casa, não deita sozinha, dedos a percorrem, o corpo treme, então chega, ela esquece tudo a sua volta, medos, carências, problemas, e adormece feliz.

Alice levanta só, e com seu ursinho, vai até o espelho, maquiagem borrada, cara cansada, atrás dessa imagem uma criança triste que precisa de atenção e respeito, e pouco a pouco o reflexo vai ficando distorcido pelos olhos molhados e os soluços. Talvez usar o sexo como escambo, não traga um amor para toda vida, ela a mais mentirosa e solitária.

A luxúria pode ser uma máscara bela, mas pouco a pouco escorrega e revela um rosto despedaçado, cheio de sorrisos forçados que fazem doer às bochechas, numa automutilação silenciosa e fugaz.
E o espelho se quebra.

domingo, 17 de dezembro de 2006

Um amor infinito

Ele a abraçou, disse coisas no ouvido, beijou seus lábios, e então grudaram os corpos. Suspiros, o ar entrando e saindo de forma rápida de um a outro, o tato inflama e os sentidos dizem coisas sem usar palavras, ficaram assim por um tempo, um tempo que o relógio não contou. Depois sem tchaus, sem adeus, se foram. E para o Amanhã só deixaram um talvez...

Portas e janelas

Depois de mais um dia difícil, trabalho sim, sim houve e haverá muito trabalho, problemas em casa, um corpo cansado e um vazio no coração.
Ela sobe as escadas devagar, um lance, dois, três andares, ela não foi vista por ninguém, mais cinco andares, empurra, a porta abre rangendo, ela chegou, o vento bate em seu rosto, ela fingi não sentir, sim e ela faz isso bem. Vinte passos depois, ela olha o mundo lá embaixo, com olhos molhados, vê pessoas pequenas, carros apressados, sem piscar ela pensa em ver tudo agora mesmo mais de perto, o vento a chama, mas não, não, não. Ela se vira, enxuga as lágrimas, devagar vai para casa, desmanchar o altar que fez a suas feridas, abre as portas e janelas e dá mais uma chance a sorte da Vida.

Vai ver é assim mesmo


Andando rápido com seu All Star, Tiago desce as escadas. Estação da Sé, tanta gente indo, vindo, para todos os lados. No ouvido fone, mp3, tocava alto "Vai ver é assim mesmo" do Dance of Days.

“Sabe eu cansei de estar aqui esperando, mas não sei se...”.

Cabisbaixo, ele vai entre a multidão, não presta atenção em ninguém só quer um espaço. Um rosto conhecido era Aline, o coração bateu depressa até ver o cara mais velho que estava ao lado, era mais um.

“Quanto te vejo correr de lábio a lábio pelos...”.

Ele suspirou e andou sem olhar até perto da linha amarela de segurança, não havia nada que ele pudesse fazer, apenas sofrer mais uma vez.

“O amor é um demônio desgraçado que vive a me passar rasteiras...”.

O metrô se aproximava, Tiago ficou a espera, Aline passava os olhos entre os rostos porque viu o brilho dos olhos dele. As portas se abriram, o empurra-empurra de sempre, Aline foi até perto do vagão onde Tiago entrou, lá dentro não o encontrou, na plataforma ele não ficou, só houve um barulho, quando o metrô partiu.

“Talvez tudo mesmo seja a maneira que eu encontrei pra acabar com meus dias...”.

Tiago não sofreu mais por Aline, e ela chorando, correu aos braços do cara mais velho, que era seu pai...

Lembrar é bom, esquecer pode ser melhor

Barulho no telhado de zinco, correndo os olhos pela janela, ela vê grandes gotas de chuva caírem no solo que as recebe de bom grado.

- Eita menina! Como vai embora agora?- grita a patroa.
- Eu... Bem eu não sei não, dona.
- Menina esquecida, nunca escuta que se deve andar sempre com sombrinha?
- Sim, eu sei, mas...

Ela então vai, o vestido, os cabelos e o corpo, a molhar com a chuva de verão. Na esquina, próxima a sua casa, uma calçada com azulejos, escorregão, corpo ao chão. Dolorida e com vergonha, levanta devagar, uma mão, não uma não, mas duas mãos a ajudar, e dois olhos brilhantes, que ela só pensava que existisse nos seus sonhos e quando lia as histórias de amor vendidas em banca de jornal.

- Você se machucou? disse o dono dos olhos.
- Não, não foi nada.- ela disse.
- Não, foi tudo, o Tudo e o mais – foi o que ela sentiu.

Essa menina esquecida, nesse dia aparentemente comum, não imaginava encontrar o amor de sua vida, e sua Avó não imaginava a dádiva que sua neta teria, ao esquecer mais uma vez de suas palavras.

- Ai fia, leva a sombrinha que vai chover!